Memórias, lutas e reparação. Viver com dignidade é direito 

O dia 17 de abril é marcado pela memória. Neste mesmo dia, no ano de 1996, houve um dos maiores massacres humanos contra a vida do povo trabalhador, foi em Eldorado dos Carajás, no estado do Pará. Este ataque deixou 21 mortos, sendo 19 mortos no local e 2 indo a óbito no hospital. Desde então a memória do dia se estende para todo o mês, no chamado Abril Vermelho. 
 
Atualmente o marco é reconhecido como Dia Internacional de Luta Camponesa, e é esta memória que trazemos hoje. Das pessoas que tiveram seu sangue derramado na terra enquanto lutavam por uma vida digna no campo, seja pelas mãos de empresários, grileiros, garimpeiros, fazendeiros, mineradoras, madeireiros ou do próprio Estado com ações de violações de direitos  básicos como à própria vida, o povo que sonha com a reforma agrária, ou que faz algum enfrentamento as opressões sofrem ataques aos territórios humanos e sobre a cultura e a espiritualidade dos povos em sua diversidade de ser do campo, das águas e das florestas. Esses se repetem na história do Brasil, desde a colonização e crescem com ações de violações por meio do avanço de setores comerciais, igrejas fundamentalistas e práticas de racismo étnico/racial. 
 
É sobre a necessidade e o direito de viver com dignidade e a urgência pela reparação das violências causadas aos povos do campo, das águas e das florestas.

Violência crescente 

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra – CPT os conflitos no campo cresceram nos últimos 4 anos (os registros são dos anos de 2019 a 2022).  Somente em 2022 foram registrados 47 assassinatos em conflitos no campo, o que representa um crescimento de 30,56% na comparação com o ano de 2021, no qual 36 pessoas foram vítimas dessa violência extremada.  
 
No ano de 2022, pelos registros da CPT, houve ainda um aumento de 272,73% nos números de tentativas de assassinato – passando de 33 para 123 pessoas – e de 43,06% nos números de ameaças de morte – de 144, em 2021, para 206 pessoas ameaçadas em 2022. No caso das tentativas de assassinatos, é o maior número desse tipo de violência registrado em todo o século XXI. Os conflitos que geram violência no campo são categorizados na CPT por conflito água, conflito terra e conflito trabalhista. 


Direitos do Povo Atingido do Campo, das Águas e das Florestas 

Cabe ressaltar nesse marco de luta, que é justa a luta por reparação, pois é um direito do povo. E que se faz necessária a aplicação de medidas para proteção dos povos e comunidades do campo, das águas e das florestas.  Em questões de dados levantados pela CPT, só no Espírito Santo foram registrados um total de 32 tipos de conflitos no campo, atingindo aproximadamente 4.070 pessoas. Desses conflitos, alguns aconteceram em áreas que lutam por reparação do caso do rompimento da barragem de Fundão em Mariana, como é o caso dos conflitos registrados e nomeados como Comboios/Mineradora Samarco Vale-BHP Billiton que aconteceram contra os povos indígenas em Aracruz que atingiram cerca de 120 pessoas.  
 

Povos Originários do Brasil 
 
Também no marco do Abril Vermelho temos o Dia de Luta dos Povos Indígenas, no dia 19 de abril. Aqui relembramos a luta dos povos indígenas contra o genocídio que lhes fere desde a primeira desembarcarão e invasão do mundo ocidental nas Américas.  
 
No Brasil ainda hoje o povo enfrenta esse genocídio, muitas vezes inconstitucionalmente transformado em lei, como o PL do marco temporal, que afirma que os povos indígenas só possuem direito às terras que já eram tradicionalmente ocupadas pelos originários no dia da promulgação da Constituição Federal – CF, em 5 de outubro de 1988.  
 
A pergunta que fica é: Como ocupar as terras se elas foram roubadas de seus verdadeiros donos? A luta dos Povos Indígenas contra o marco temporal continua, bem como a luta de todo povo trabalhador que luta por uma terra digna. Antes do Brasil ser terra de coroa ele é terra de cocar! 

A Assessoria Técnica dos Atingidos e Atingidas por Barragens – Adai, segue atuando nos territórios na busca por reparação justa e reafirmando que do Rio ao Mar o povo não vai se calar. De norte a sul desse país, o sangue derramado é semente de justiça, pois viver com dignidade é direito do povo, e garantir esse direito é dever do estado.